Quem mora em Brasília há muito tempo guarda na memória a lembrança da época em que a cidade tinha um aspecto novo, era limpa e, sobretudo, organizada. Esse retrato teve a sua presença mais forte no imaginário da sociedade duas décadas após o período de inauguração e antes da fase atual. Foram os anos de desenvolvimento da capital da República, por assim dizer. Após a transformação do sonho de Juscelino Kubitschek em realidade, acreditávamos que esse museu a céu aberto se manteria preservado. Não foi bem assim. E o problema passa, essencialmente, por uma questão de conservação.

Engana-se quem enxerga no progresso o vilão pela desestruturação da cidade. Não podemos esquecer que a atividade econômica fornece os mecanismos necessários para o cidadão gerar riqueza e usufruir dos seus benefícios. Em um ambiente ordenado, a consolidação do comércio, da indústria e da agricultura não compromete a qualidade de vida. Pelo contrário, torna possível o combate ao desemprego e a distribuição de renda. O que afeta negativamente os serviços e equipamentos públicos é a falta de uma política de manutenção e uso dos recursos existentes.

Os brasilienses têm visto nas últimas décadas um completo abandono dos espaços urbanos. O centro de Brasília, mais precisamente o Setor Comercial Sul, é o retrato fiel desse descaso. As pistas estão todas esburacadas, as calçadas quebradas, as ruas sujas, o mato alto e as construções decadentes. É ainda mais surpreendente quando analisamos sob o aspecto da idade da capital, que tem apenas 51 anos. Isso é muito pouco quando comparamos com outras capitais do mundo. As pontes, viadutos, hospitais, escolas, museus e pontos turísticos estão mal conservados.

Recentemente, o elevador da Torre de Televisão – cartão postal da cidade – ficou alguns dias sem funcionar por problemas de manutenção. Ano passado, a Ponte JK, aparentemente nova, teve que ser fechada para reparos que ameaçavam sua estrutura. Por todos esses motivos, é preciso elogiar a iniciativa do governo em criar um comitê para preservar o patrimônio de Brasília. Mas precisamos ir além. A ideia é promover ações em parceria com escolas e universidades para conscientizar a sociedade sobre a importância de preservar os monumentos e a área tombada.

Todos nós devemos adotar a defesa da cidade. Preservar também requer mais investimentos em sinalização e em campanhas educativas. Se não cuidarmos de Brasília, a capital corre um sério risco de deixar de ser Patrimônio Cultural da Humanidade. Está prevista para março uma visita técnica da Unesco para avaliar a situação. Seria uma derrota para todos se justamente no aniversário de 25 anos de tombamento a cidade perdesse o título de patrimônio da humanidade. Mãos à obra.

*Publicado originalmente no Jornal de Brasília – 6/2/2012

Brasília, 6 de Fevereiro de 2012


Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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