O endividamento crônico ou superendividamento das famílias brasileiras tem origem em fatores como a baixa renda, o desemprego e o consumo inconsciente, motivos que devem ser tratados, com ênfase, por meio de políticas voltadas para o bem estar e a recuperação da dignidade e da cidadania de pessoas que se encontram em situação financeira desequilibrada. Geralmente, essas dívidas têm como nascedouro o cartão de crédito, avança-se para o cheque especial, financiamentos em geral, empréstimos com parentes, amigos e agiotas, o que acaba se transformando em uma bola de neve.
O superendividamento pode ser considerado como a impossibilidade global de o devedor pessoal física e/ou jurídica pagar todas suas dívidas atuais e futuras, que podem envolver produtos ou serviços. Educação financeira e a mudança de comportamento são os primeiros passos para se livrar deste problema.
Convém diferenciar endividamento de superendividamento. O primeiro são as despesas dentro do poder de pagamento, ou seja, aquilo que foi comprado, bens ou serviços, que podem ser pagos. Não é considerado um péssimo negócio e, em muitos casos, é melhor ter uma prestação e adquirir um bem durável que gastar o dinheiro sem objetivo. Já o superendividamento são despesas fora do poder de pagamento, ou seja, não foram devidamente planejadas e não serão pagas. É o que causa o desequilíbrio patrimonial.
Para aqueles que não têm controle de suas finanças pessoais, é importante alertar que estar em uma situação de superendividamento leva a diversas situações de dificuldades, constrangimentos, exclusão social, empobrecimento, desespero e algumas vezes à morte.
Ao longo dos últimos anos a economia brasileira experimentou, ao mesmo tempo, forte crescimento de crédito e do endividamento das famílias. O volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional passou de R$ 417,8 bilhões em janeiro de 2004 para R$ 1,71 trilhão em janeiro de 2011. Essa relação de crédito bancário/PIB passou de 24,3% para 45,5% no mesmo período. Grande parte desse crescimento foi impulsionada pela carteira de pessoa física, que, no início de 2004, representava somente 38% do crédito total e, em 2011, atingiu 45.9% do estoque ou o equivalente a R$ 787,7 bilhões.
A expansão do crédito, em um primeiro momento, gera uma sensação de prosperidade. Aumenta o consumo, a demanda por mão de obra em todos os setores, aumenta a oferta de emprego, os salários, a renda nominal e os investimentos; o que estimula os números do PIB, do emprego e da renda. Havendo sustentabilidade, a expansão de crédito gera prosperidade. Entretanto, sem sustentabilidade gera prosperidade artificial e, mais tarde, as duas principais consequências, endividamento e a inflação de preços.
Entre 2004 e 2011 ocorreu uma explosão de crédito. Contudo, atualmente, 62,5% das famílias brasileira estão endividadas, sendo 36,42% endividadas e sem condições de pagamento; 26,08% muito endividadas; e somente 37,5% não têm dívidas ou têm dívidas sobre controle e/ou com investimentos. Ou seja, o ingresso no superendividamento pode se dar por vontade própria, por não conhecer o mercado, ser levados por tendências e por suas armadilhas. Contudo, querer sair dessa situação depende somente de planejamento, mudança de comportamento, consumo consciente pessoal e familiar.
Ronalde Lins, economista, membro do Corecon/DF