Como pode o acesso a um hospital público ser algo tão vulnerável em Brasília, a ponto de uma jovem de 25 anos conseguir sequestrar facilmente uma criança recém-nascida no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN)? Essa é a pergunta que todos os brasilienses têm feito após o episódio da semana passada – e que o governo precisa responder. Ninguém retira o mérito da Polícia Civil do Distrito Federal, que de forma exemplar agiu rápido e devolveu o bebê são e salvo para a mãe. Os policiais estão de parabéns. Mas, ao mesmo tempo, o caso expõe a miséria social no DF, o abandono da saúde e a absurda precariedade dos hospitais.
Quem fala em um final feliz não deve estar levando isso em consideração. Hoje, o pânico de muitas grávidas é o de serem obrigadas, por força do destino ou pela condição social, a irem parar no HRAN. No caso que chocou a cidade, a sequestradora ficou quase cinco horas dentro do hospital até raptar a criança. Antes disso, visitou o local em uma sexta-feira e transitou livremente pelos corredores do hospital com uma barriga falsa, sem ser incomodada. No dia do sequestro, apenas deu um nome falso e passou pela portaria central rumo à maternidade.
Por pouco, a inocente Sara Maria da Silva, que vive em estado de pobreza absoluta em uma invasão da Estrutural, sem acesso a serviços básicos que qualquer cidadão tem direito, não teve o seu filho sequestrado durante anos, como o Pedrinho – só encontrado quase duas décadas depois. Alguns bebês jamais são resgatados. Esses casos assombram Brasília. Só que agora, os fantasmas rondam os hospitais públicos com certa desenvoltura e se aproveitam do sucateamento das unidades, onde até uma simples câmera de segurança não funciona. Chega a dar a impressão de que o Estado fechou mesmo os olhos para a saúde e seus habitantes. E aí, devemos entender como Estado, não só o GDF, mas a Câmara Legislativa, o Judiciário e todas as instituições com responsabilidade perante a população.