Experiente e empreendedor, Adelmir Santana comanda pelo quarto mandato a Fecomércio DF, expressiva entidade que representa 27 sindicatos. Ele garante que, apesar da retração, há saídas para toda a crise. Basta procurar nichos e não parar de estudar o mercado.
Nas manchetes de jornais, conversas de escritórios e papos informais o assunto do momento é a crise econômica que o Brasil tem atravessado. O cenário é de demissões, queda no faturamento e cortes nos excessos. Nem mesmo para quem sonhava com a estabilidade das carreiras públicas a situação está boa. Recentemente, o governo anunciou a suspensão dos concursos.
Empresários e comerciantes estão mais cautelosos. Para o presidente da Fecomércio DF, o ex-senador Adelmir Santana, a crise vem sendo realimentada pela dúvida. “Há um excesso de desconfiança. Fazemos uma pesquisa de Índice de Confiança do Empresário do Comércio do Distrito Federal (ICEC-DF) e está desesperador. O próprio empresário vai diminuindo as vendas, ficando sem estoque, sem disposição para alimentar a loja. Um processo de retro-alimentação”, avalia.
Em doze meses, esse índice de confiança caiu cerca de 31 pontos. “Hoje está abaixo de 100, nunca escala que varia de 0 a 200. Isso significa que estamos pessimistas. Esse também é o sentimento do consumidor. Taxas de juros elevadas, perspectiva de desemprego, alto índice de endividamento das famílias”, exemplifica.
Como superar a crise? Essa é a pergunta que todo mundo tem feito. “Se eu soubesse a técnica para driblar o momento, certamente aplicaria”, brinca Adelmir. E logo complementa: “É necessário buscar nichos de mercado e estar atento à fidelização dos clientes”.
Nascido no Maranhão, Santana desembarcou em Brasília em 1964. Com talento nato para empreendedorismo, cursou Administração de Empresas e especializou-se em Gestão Estratégica para Dirigentes Empresariais, na INSEAD, em Fontainebleau, na França. Como empresário, ficou conhecido por consolidar a rede de Drogarias Vison. É casado com Maria José Santana há 44 anos, tem três filhos e seis netos.
Foi senador da República, entre 2007 e 2010, e deixou seu legado por ter sido relator da Lei do Micro Empreendedor Individual (MEI). Atualmente, está em seu quarto mandado na Fecomércio-DF, que desde 1970 representa 27 sindicatos patronais e é considerada a maior entidade do setor produtivo local, além de administrar o Sesc (que leva lazer, esporte e cultura para trabalhadores do comércio) e Senac (que oferece educação profissional).
Os setores representados pela Fecomércio são considerados os propulsores da economia brasiliense. Hoje, as áreas de comércio e serviços respondem por 93% do PIB privado do DF e por um milhão de empregos diretos na cidade. Em um bate-papo com a revista GPS Brasília, o empresário fala sobre os desafios do setor.
BRASÍLIA VISIONÁRIA
“Juscelino Kubitschek ter tido a coragem de interiorizar a capital do País já trouxe esse espírito empreendedor. Certamente nenhum país do mundo conseguiu mudar a capital em tão pouco tempo”, diz Adelmir. A cidade carrega a braveza de pioneiros que apostaram no sonho de JK. “Brasília é fruto de empreendedores natos. Pessoas não foram treinadas para isso. Mas tinham a intuição. Vieram pela oportunidade e muitos conseguiram se destacar”, analisa.
NOVO TEMPO
Enquanto no passado a maioria empreendia por necessidade, hoje, nasce um novo perfil. “Atulamente, o empreendedor também é técnico. Pessoas formadas, que estudam e se especializam para esse fim”. Para Santana, o Sebrae e as universidades exercem um papel fundamental para despertar esse interesse do mercado privado e lançar empresa júnior.
MIGRAÇÃO BSB-GO
É possível identificar uma migração de empresas da Capital para outros estados. O Sindiatacadista-DF teve uma perda significativa de empresas que operavam no DF, cerca de 500 abandonaram a região de março de 2008 até hoje. Uma das opções é o estado vizinho, Goiás, onde impostos são menores. “A ´guerra fiscal´ prejudica estados que são menos agressivos”, esclarece Adelmir. “O GDF está buscando uma alternativa para fortalecer os atacadistas locais”, acrescenta.
ECONOMIA CRIATIVA
“Certamente, é o caminho para encarar a crise”, enfatiza Adelmir. Segundo estudo da Codeplan, a economia criativa emprega 22 mil profissionais, cerca de 1,5% na mão de obra formal. Sem definição precisa, esse segmento é composto por setores como arte, cultura, moda, decoração, gastronomia e novas mídias.
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
O Distrito Federal hoje soma mais de 285 mil empresas, sendo 92,6% micro e pequenas. “O governo atento para essa massa, criou a figura do empreendedor individual”, diz Adelmir. Esses trabalhadores buscam a regularidade de suas atividades. “Temos o ganho econômico, pois essas pessoas passam a ter CNPJ, acesso a banco, cartão de crédito; o social, pois podem dizer que são empreendedores; e o mais importante, o aspecto previdenciário”, destaca. Adelmir comenta ainda que a classe tem peso significativo na geração de empregos. “Elas representam 55% dos empregos”.
MORTALIDADE DAS EMPRESAS
A orientação antes de abrir o próprio negócio é buscar ajuda especializada. “Vivemos um momento em que a mortalidade das empresas no Brasil, em especial micro e pequenas empresas, chega a ser muito elevada em um espaço curto. A média antes era que 70% morriam antes do segundo ano, hoje a perspectiva vai até o quinto ou sexto ano’, aponta. O Senac e o Sebrae trazem oportunidades para esses empreendedores. Aos que já abriram as portas sem essa ajuda, Adelmir aconselha: As instituições podem oferecer o papel de suporte. A busca pela melhoria é contínua”.
MAIORES ERROS
Para Adlemir o empresário peca ao se acomodar, pois o mercado é extremamente agressivo. “Em qualquer atividade que você exerce, se você não evolui, vem a concorrência e traz essas inovações.”. Para ele, o empresário erra ao não buscar esse constante aperfeiçoamento. Outra falha ressaltada pelo especialista é que muitos empresários só procuram ajuda quando as empresas estão na UTI, ou seja, quando já não estão bem.
EMPREENDEDORISMO X SERVIÇO PÚBLICO
Chamada de cidade administrativa, Brasília tem enraizado o funcionalismo público. “Logo, grande presença da massa salarial que circula no DF é desse público, o que faz com que a cidade tenha uma alta renda per capita. E esse dado desperta o interesse de empreendedores”, aponta Adelmir. Porém, a vivência familiar e cultura da cidade faz com que muitos jovens com potencial no empreendedorismo optem pelo setor público.
DICAS DO PRESIDENTE PARA O EMPREENDEDOR ENFRENTAR A CRISE
Ajuste as contas
Se for possível, não se endivide ou, pelo menos, procure financiamentos com taxas de juros menores. Renegocie suas dívidas e economize onde puder.
Faça a diferença
Procure se estabelecer no mercado sempre de uma maneira diferenciada. Por exemplo, por meio de um preço mais atrativo, mais qualidade no serviço e melhor atendimento.
Invista em capacitação
Um dos caminhos para o sucesso, em qualquer área, é não para de estudar. Estude e promova treinamentos constantes para a sua equipe.
Ocupe os nichos
Diversos segmentos ainda são pouco explorados. Alguns públicos específicos possuem necessidades particulares e atender a essas demandas pode representar um diferencial competitivo.
Conheça seu cliente
Em um cenário de retração econômica, é ainda mais importante pesquisas os interesses dos consumidores e saber quais são seus hábitos e preferências de consumo.
Encante o consumidor
Transforme a compra de um produto ou a visita à empresa em uma experiência mais do que agradável. Ofereça mimos. Pode ser um café, um suco ou um espaço para descanso e lazer, as opções são inúmeras.
Ajuste o ambiente
A sua loja ou empresa deve possuir instalações agradáveis e adequadas à áreas de atuação. Espaços bonitos e decorados atraem mais clientes.
Compartilhe experiências
Uma estratégia muito utilizada hoje para reduzir gastos tem sido a utilização conjunta de espaços e ferramentas por diferentes empresas. A troca com outros empresários também pode facilitar a superação de desafios e o fortalecimentos do mercado.
Comunique-se
O chavão “a propaganda é a alma do negócio” nunca esteve tão evidente, com o diferencial de que atualmente os empreendedores podem utilizar canais praticamente gratuitos de comunicação e marketing. Aproveite as redes sociais para impulsionar a empresa e estreitar o diálogo com os clientes.
Artigo publicado na Revista GPS Brasília, edição de Dezembro.