Adelmir Santana
Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio)
A educação profissional propicia a milhares de brasileiros uma profissão digna. A cultura oferece conhecimento, lazer e forma identidades. A saúde promove o bem-estar das famílias. E a assistência social auxilia quem muitas vezes não tem sequer o que comer. Aliado ao empreendedorismo, esses são os pilares do chamado Sistema S, um conjunto de instituições da iniciativa privada mantidas pelos setores de comércio, serviços, indústria, turismo, agricultura e transportes, que tem como missão levar capacitação e qualidade de vida aos trabalhadores do nosso País. Durante muito tempo, mais precisamente desde a década de 40 até hoje, essa foi uma das poucas estruturas sociais do Brasil a se preocupar em oferecer de forma acessível essa gama de serviços a nossa população.
Em cidades onde às vezes não existiam hospitais, bancos ou até mesmo escolas, não era raro encontrar uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) ou do Serviço Social do Comércio (Sesc). Ainda hoje é assim. São locais onde o trabalhador pode fazer um curso, ir ao clube, assistir um espetáculo teatral ou fazer um exame de mamografia e se consultar com um médico. Grande parte disso, de forma gratuita. Ao longo dos anos, esse sistema se transformou em uma verdadeira referência para milhares de pessoas, principalmente brasileiros de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social. Suas siglas são amplamente conhecidas e atendem pelos nomes de Sesc, Senac, Sesi, Senai, Sest, Senat, Sescoop, Senar e Sebrae. Todas referências em auxiliar os brasileiros.
Nacionalmente, apenas Sesc e Senac atendem 2,2 mil munícipios. O Senac mantém uma infraestrutura de ponta composta por mais de 600 unidades escolares, empresas pedagógicas e unidades móveis. O Sesc possui mais de 19 mil funcionários divididos em centros de atividades, meios de hospedagem, sedes educacionais, unidades móveis e consultórios, além de oferecer as maiores redes privadas de teatros e de bibliotecas do País. Senac com ensino profissional de qualidade e Sesc levando principalmente cultura, saúde, lazer, educação e assistência. Mas agora todo esse sistema se encontra ameaçado. Não por uma questão de má gestão ou qualquer tipo de desvio – pelo contrário, somos auditados por órgãos fiscalizadores externos e internos e prestamos contas públicas dos nossos orçamentos – mas por uma questão de corte de gastos. Se existem distorções, pouca transparência, que se estabeleçam normas sobre isso, não uma medida radical.
O novo ministro Paulo Guedes anuncia que é “preciso enfiar a faca no Sistema S”, mas antes disso é preciso questionar a quem interessa desmontar uma das poucas estruturas sociais do País que realmente funciona. Ninguém é contra o enxugamento da máquina administrativa e da redução da carga tributária do País. Nós, que como empresários mantemos o Sistema S com recursos provenientes de nossas empresas, sempre fomos os primeiros a reivindicar a redução dos impostos e a desburocratização do Estado. Porém, degolar esse Sistema não significa economizar. Desmantelar uma estrutura que funciona com recursos provenientes da iniciativa privada, mesmo que compulsórios, é interferir no trabalho de quem age corretamente, sem fazer o que realmente precisa ser feito: que é cortar na própria carne.
Se o governo fizer o que promete um terço ou metade das ações do Sistema S realizadas hoje irão acabar. Milhares de escolas e unidades serão fechadas, funcionários serão demitidos e cidadãos desamparados não terão mais a quem recorrer. Para se ter uma ideia desses números, só no Distrito Federal o Sesc realizou mais de 111 mil consultas médicas em 2018 e quase 113 mil consultas odontológicas. O Senac, por sua vez, completou 51 anos de atuação no DF tendo alcançado mais de 1,1 milhão de alunos matriculados desde a sua inauguração. Em 2018, a instituição registrou mais de 15 mil matrículas nos mais de 240 cursos profissionalizantes oferecidos. Já o programa Mesa Brasil do Sesc, só no primeiro semestre de 2018 distribuiu nacionalmente 22.493.834 quilos de alimentos.
Mas com o corte que o governo anuncia, não será possível manter nenhum desses números. Ainda pior, a vida dessas pessoas que dependem desse sistema mudará radicalmente. Não estamos falando de centenas, mas de milhares de jovens e adultos que perderão a única oportunidade que possuem, seja de conquistar um emprego, seja de fazer um tratamento de saúde. Estamos falando de pessoas que deixarão de comer. Não será um corte na própria carne, será uma degola. Seguiremos pedindo que o governo reveja urgentemente esses planos, para o bem do Brasil.