Adelmir Santana
Presidente da Fecomércio-DF, entidade que administra o Sesc, o Senac e o Instituto Fecomércio no Distrito Federal.
Tem uma estação em Brasília em que as árvores se enchem de cor e os olhos transbordam de admiração. O brasiliense conhece muito bem essa época. Começa com as flores roxas, depois vêm as amarelas, as brancas e termina com as rosas. Dependendo do clima, em um mesmo mês podemos ver mais de um tipo de flor em meio à paisagem cinza do Cerrado. É o tempo de florescimento do ipê. Geralmente, esse período vai de junho a outubro e a sua beleza motiva o cidadão a enfrentar a seca. Para mim e para muitos outros, tenho certeza, é um dos espetáculos naturais mais belos da capital federal. Só não compreendo a falta de atenção com essa maravilha.
A época de florescimento dos ipês pode representar muito mais para o desenvolvimento econômico e social de Brasília. Por que não fazer dessa estação um período de defesa do nosso patrimônio natural e de celebração do turismo e da cultura brasiliense? No Japão, o despertar das cerejeiras é um acontecimento anual, esperado por milhares de pessoas. O início da floração demanda previsões rigorosas emitidas pelo governo para que as pessoas possam acompanhar o fenômeno. O surgimento das primeiras pétalas inspira festas como o hanami, quando japoneses e turistas buscam um lugar nos parques para comer, celebrar e apreciar a paisagem.
Não se trata apenas de contemplação. Alguns dos festivais do hanami são realizados para mais de 10 mil convidados, gerando emprego, renda e lazer. Tampouco representa uma miopia com outras questões fundamentais. Inclusive para isso o ipê pode ser fonte de inspiração. Mesmo quando o ar está cinza e a poeira vermelha irrita os pulmões, ainda temos a esperança de que as flores irão encher os nossos olhos e lavar nossa alma. A saúde pública, a educação e o transporte público no Distrito Federal podem funcionar com qualidade. Claro que podem. Mas para isso precisam ser bem tratados, tal qual o ipê. O que falta é preservação e cuidado com o nosso patrimônio.
Publicado originalmente no Jornal de Brasília 15/09/2014