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Em prol do Brasil | Entrevista com José Roberto Tadros

O presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros, é o entrevistado desta edição da Revista Fecomércio-DF. Empresário amazonense e presidente da Fecomércio-AM, Tadros, de 72 anos, terá seu mandato até novembro de 2022 e garante que seguirá ampliando a presença da CNC no debate nacional, com propostas concretas para atuar de forma assertiva no fomento ao desenvolvimento do Brasil por meio do fortalecimento do comércio. Formado em Direito pela Universidade do Amazonas, atua como empresário do setor terciário desde 1974. Além das suas atividades comerciais e sindicais, ele é autor e coautor de diversos livros e membro da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia de Ciências, Artes e Letras do Amazonas.

 

 

Quais os ensinamentos o senhor traz da experiência na Fecomércio-AM para agregar à sua atuação em nível nacional, como presidente da CNC?

Estou há 51 anos no Sistema Comércio. Eu e o dr. Antonio Oliveira Santos, que meu antecessor na Presidência da CNC, entramos na mesma época no Sistema, só que o dr. Antônio entrou como presidente da Federação do Comércio do Espírito Santo, e eu entrei como vice-presidente de sindicato, depois presidente de sindicato, administrador do Sesc por delegação do presidente que me antecedeu, presidente da Federação do Comércio do Amazonas por 32 anos e meio e, por último, presidente da CNC. Então, o Sistema não me é estranho.

Qual foi o cenário encontrado quando o senhor assumiu a Presidência da Fecomércio Amazonas?

Devo dizer que peguei o Sistema no Amazonas em uma situação extremamente difícil. As unidades do Senac não funcionavam, os espaços eram cedidos para ministrar cursos, nós vivíamos com anemia de recursos financeiros, sem investimentos. Quando entreguei o Sistema, para assumir aqui, eu deixei perto de R$ 240 milhões em caixa, e, entre construções e aquisições, nós compramos mais de 30 imóveis. Só havia uma unidade do Senac funcionando lá e duas do Sesc. Hoje nós temos alguma coisa como 30 escolas, entre unidades móveis, barco-escola, unidades fixas no interior do Estado, na capital. Em nível de Sesc, nós fizemos grandes investimentos, como no ensino médio. Hoje, na área de Educação temos desde a recreação infantil, passando pela alfabetização, pelo ensino fundamental, o ensino médio; na área do Sesc e do Senac, os cursos profissionalizantes e a Faculdade Senac. E em nível de Federação do Comércio, nós adquirimos a nossa sede com recursos próprios, um prédio moderno e funcional, numa área de 4.500m², em uma região arborizada e no melhor bairro de Manaus.

E quais as principais metas do senhor à frente da CNC?

Há várias frentes de ação. No âmbito da CNC, nós queremos manter uma interlocução sadia com o poder constituído, focalizando nos anseios do empresariado. E defender de forma resoluta e irrestrita as instituições que compõem o chamado Sistema S, porque este presta relevantes serviços ao País e, se há alguma deturpação da visão desse Sistema, é de pessoas que não o conhecem. E instituições altamente fiscalizadas como o Sesc e o Senac não podem ser chamadas de caixa-preta, até porque têm Conselhos Fiscais Regionais, Conselho Fiscal Nacional, auditorias permanentes, o Tribunal de Contas da União (TCU). São filtros que poucas ou nenhuma outra instituição têm. Quando há algum problema, eles são detectados e solucionados. Como foi o caso de uma unidade da Federação que teve suas instituições sob intervenção. As instituições foram saneadas em todos os sentidos, as unidades que estavam fechadas foram reabertas, os recursos que estavam escassos foram restaurados, houve reforma, recuperação e aquisição de imóveis. Eu me refiro a uma unidade, um estado em que as instituições foram devolvidas para o seu presidente legitimamente eleito em 2018. De resto, nós continuamos vigilantes no que tange à aplicação dos recursos com correção. E lembrando que todas as nossas atividades de Sesc e Senac são deficitárias. No âmbito do Sesc, 99% das atividades são deficitárias.

O Brasil é um País continental e o Sesc e o Senac estão presentes nos mais diferentes locais, muitas vezes como as principais opções disponíveis para a população. Como seguir ampliando essa atuação?

Existe, de fato, uma amplitude e uma diversidade muito grandes nessa atuação. A realidade do Amazonas é diferente da do Ceará, por exemplo. No Ceará, há acesso a todos os municípios por via terrestre. Já no Amazonas, não é assim. Além disso, o Estado do Amazonas tem um território que, se fosse um país independente, só seria menor que o Brasil e a Argentina, na América do Sul. E, se você falar em América latina, ele seria o 4º maior território, o 4º maior país da América Latina. Só perderia para o México por uma pequena extensão de 300 mil km². A França cabe dentro do Estado do Amazonas três vezes e meia. Por aí, é possível ver a grandiosidade de uma unidade federativa onde o Sesc se faz presente, o Senac. E o que é importante: atuando com as diversidades culturais, étnicas, religiosas, de usos e costumes e tradição diferentes. Então, o que o Sesc implanta lá no Ceará talvez não seja muito diferente do Amazonas, porque grande parte da população do Amazonas é de origem cearense, mas, em outras regiões, é preciso adequar as nossas visões estratégicas dentro das características locais. Porque, embora seja um país único e coeso, o Brasil é muito diverso, com maneiras diferenciadas de ver e pensar.

Os indicadores mais recentes têm apontado uma recuperação, ainda que lenta, da economia nacional. Como a CNC pode trabalhar para mudar esses índices e elevar a confiança do empresariado nacional?

A CNC foi criada com o objetivo de respaldar e orientar o empresário, dar base para que ele tenha um norte dos seus investimentos, como é o caso, por exemplo, das pesquisas e estudos que a Confederação realiza. E o resto depende muito do ambiente psicológico que o País possa estar vivendo e da boa gestão do governo. Esses são fatores importantes. Além disso, o capitalismo no Brasil precisa deixar de ser um capitalismo envergonhado, quase um arremedo de capitalismo, em que se acha que o lucro é pecado. Lucro é distribuição de riqueza. Os países que estão comprometidos com um capitalismo genuíno e valorizam o lucro têm uma classe média forte, e o povo vive bem, consome e, afinal de contas, faz aquilo que todos nós desejamos, que é viver com o que é indispensável ao ser humano, educar bem os seus filhos, ter segurança financeira, ter lazer e, acima de tudo, ter um país seguro, onde você não corra o risco de hoje a economia estar lá em cima e no outro dia cair por conta de mais uma experiência econômica.

Como o senhor acredita que as federações devem atuar em seus estados?

O Sistema Comércio, desde a sua origem, é piramidal. A base são os Sindicatos, o meio da pirâmide são as Federações e o topo é a Confederação. A tônica desse Sistema tem que ser a harmonia e a interação permanente entre as partes, sem conflitos. É preciso interagir, propor, concordar ou manifestar discordância, mas não em um ambiente conflitivo. Tem que haver harmonia, nos moldes da que precisa existir entre os três Poderes da República, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, que são independentes entre si, mas atuam harmonicamente. As Federações têm autonomia com relação à Confederação, mas há um elo entre elas que vem da base da pirâmide e nos orienta para a busca de uma atuação cada vez mais integrada.

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