Essa não é a primeira crise política e moral que o Brasil enfrenta. Pelo contrário, há quem diga que o País sempre conviveu com escândalos de corrupção nessa seara. Mas, de fato, essa crise é muito mais grave do que as outras. Ela nos incomoda pelo exagero, por atingir todos os Poderes em todos os níveis, pelo absurdo volume de dinheiro envolvido nos desvios, pela falta de limites e pelo total desprezo dos corruptos com a opinião pública. A impressão é de que a corrupção atingiu toda a classe política e as demais estruturas de governo. Essa é uma verdade quase absoluta. Quase porque, obviamente, sempre existem exceções. Mas é um sentimento de indignação legítimo, compartilhado pela maioria dos brasileiros.
O problema dessa revolta generalizada é que apesar dela nos levar a uma crítica incondicional contra a corrupção, também faz com que grande parte da população acredite que não se pode fazer nada, que todos são corruptíveis, que no Brasil não se faz política sem conchavos e que os conchavos envolvem interesses financeiros. Essa é uma realidade que não podemos aceitar. Com um pensamento atrasado, os representantes da velha política nos fizeram imaginar que para se governar ou conseguir apoio era necessário lotear cargos, trocar favores, fazer caixa dois e desviar recursos. Consolidaram assim o fisiologismo e o clientelismo no País.
A verdade é que alianças podem e devem ser construídas com base em boas ideias e em programas de governo. Pressupõe-se que para um partido se aliar a outro eles tenham, no mínimo, propostas em comum. Cargos podem ser ocupados levando-se em consideração a experiência de seus ocupantes. Leis têm que ser aprovadas em benefício da coletividade e as maiorias se constroem em defesa de uma nação. As ferramentas mais poderosas para garantir condutas focadas nesses princípios ainda são a opinião pública, o voto e a união da sociedade. A população precisa cobrar. Político não pode e nem precisa ser corrupto.
Adelmir Santana é presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instiuto Fecomércio)