Recorrer ao bolso do contribuinte não vai resolver a crise hídrica que assola o Distrito Federal. Criar uma taxa extra de 40% sobre o valor da conta e aplicar multas em postos de combustíveis e lava jatos não resolve o problema. São medidas paliativas. Qualquer resposta séria para evitar o esgotamento da água passa necessariamente pelo combate ao desperdício e pelo consumo racional. O governo de Brasília precisa implantar um programa permanente de conscientização e fiscalização dos recursos hídricos se quiser realmente preservar nosso abastecimento.
É comum avistar nos estacionamentos da cidade, por exemplo, flanelinhas carregando latas de água para lavar os carros de seus clientes. É uma cena que se repete todos os dias e quase sempre a água utilizada provém de fontes públicas ou da própria rede de abastecimento, a qual os guardadores têm acesso arrombando os bueiros das quadras, sem se importar com o desperdício. Em contrapartida, a quantidade de água utilizada para lavar um carro em um posto de combustível considerado moderno é quase mínima, em função de tecnologias de jatas de ar e mecanismos de reutilização da água.
Também é comum flagrar os brasilienses lavando jardins, carros e até ruas sem se importar. Da mesma forma, a maioria dos cidadãos toma banhos de mais de 15 minutos e costuma escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira aberta ao invés de controlar esse hábito. Pode parecer pouco, mas se a população de Brasília reduzisse o consumo em 15%, a economia já seria suficiente para abastecer 460 mil pessoas durante um mês. O consumo do brasileiro é hoje um dos 12 maiores do mundo, correspondendo a uma média diária de quase 200 litros por habitante, enquanto o recomendado pela ONU é de 110 litros. Para piorara situação, nascentes, lagos e rios do DF estão ameaçados por questões de ocupação desordenada. Fica claro que a raiz do problema está no uso descontrolado e não no valor da conta de água.
Adelmir Santana, Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senace Instituto Fecomércio)