Adelmir Santana
Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio)
Se preocupar exclusivamente com novas obras parece ser uma obsessão de todos os governantes, ainda que poucos consigam executá-las em um único mandato. Assim o fazem em busca de votos e para não ter que inaugurar empreendimentos de antecessores. Esse é um pensamento ultrapassado. Pior ainda, se volta contra o próprio administrador, prejudica a população e compromete o funcionamento das cidades. Esquecem que também é necessário manter os equipamentos existentes e preservar o patrimônio público.
Muitas vezes, em tempos de crise, conservar um meio de transporte, recuperar um ponto turístico ou cuidar bem da cidade são ações mais importantes do que inaugurar novos empreendimentos. Obviamente, que algumas obras são essenciais e não se discute a construção de uma escola ou de um hospital. Mas, geralmente, o dinheiro que falta para manter um centro de saúde sobra para erguer um “elefante branco”. No caso de Brasília, não vem de hoje, mas de décadas, a falta de compromisso com a conservação. Para se ter uma ideia, nos últimos 20 anos, o Metrô da capital não se preocupou em fazer nenhum tipo de estoque de peças de reposição. Hoje, a companhia precisa recorrer ao Metrô de São Paulo para conseguir reparar os trens.
Os banheiros da rodoviária são criticados constantemente pelos usuários. A última reforma foi feita em 2014. As passagens subterrâneas do Eixão estão pichadas, repletas de lixo e continuam sendo pontos procurados por criminosos. Eu não me lembro dessa situação ter sido diferente. Mas o retrato mais emblemático do abandono, talvez, seja o dos espaços culturais. O Museu de Arte de Brasília está fechado há 10 anos. O Centro Cultural Renato Russo não funciona desde 2013 e um dos maiores símbolos dessa cidade, o Teatro Nacional, simplesmente não abriu as portas nos últimos quatro anos. Está caindo aos pedaços. Assim, em vez de os governantes cuidarem do nosso patrimônio eles condenam a cidade ao esquecimento, ao desprezo.