Adelmir Santana
Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio)
A ameaça nunca foi tão verdadeira. E o alerta nunca foi tão solenemente ignorado pelas autoridades. Os desabamentos ocorridos em Brasília foram sim, tragédias anunciadas. E tudo isso se torna um clichê tamanha é a frequência com que esses episódios se repetem na história brasileira. Chega a parecer, realmente, que é preciso alguém morrer para se tomar uma providência. Lembro que somente neste jornal eu escrevi dez artigos alertando sobre a necessidade de o governo conservar o patrimônio público brasiliense. A minha última manifestação foi em 29 de janeiro, seis dias antes do primeiro desabamento.
Escrevi que ao invés dos governantes cuidarem do patrimônio eles condenam a cidade ao esquecimento. Utilizei exatamente essas palavras e nunca me referi apenas ao governo atual, mas a todos. Em anos anteriores publiquei artigos com títulos como: falta de cuidado, patrimônio ameaçado, falta de conservação e descaso com a cidade. Sempre destaquei o mesmo ponto: Brasília é uma cidade nova, com cara de velha. Não são realizadas manutenções em pontos turísticos, em equipamentos de primeira necessidade ou em construções simples. Citei, na época, a Ponte do Bragueto, o Setor Comercial Sul e, inclusive, a Galeria dos Estados.
Assim como a Fecomércio, outras tantas entidades se manifestaram. O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) alertou recentemente para o risco da Barragem do Lago Paranoá desabar. O Conselho Regional de Engenharia (Crea) disse que existem grandes possibilidades de novos desabamentos. Em 2011, um relatório do Sindicato de Engenharia e Arquitetura apontou uma série de viadutos que corriam risco, como o da Galeria. E em 2012, o Tribunal de Contas determinou reparos nessa mesma via. Ou o governo desconhece a todos ou ignora os apelos. O fato é que não faltaram avisos. Isso é omissão. O que nos obriga a reclamar sempre e cobrar mais uma vez uma atitude efetiva, antes que seja tarde demais.